NA MORTE DE EUGÉNIO DE ANDRADE
Sabes, Jorge, quantos poetas vão escrever versos inúteis
porque morreu um pai e a orfandade é uma coisa que dói?
Então porque o fazes tu sem respeito nenhum pelo sorriso
invertido com que o Eugénio te agraciava as visitas? Da
orfandade sabes tu o que dizer. E disseste-o sem pudor
pela mãe que, viúva, leria os teus versos, pelo irmão que mais
orfão do que tu os sabia também seus. Não que o Eugénio
tivesse sorrisos para outros - que não tinha - mas porque
depois de algum tempo era assim que o querias, zangado
com tudo e com todos, apenas pensando naquele banco
junto ao jacarandá de onde acabou partindo para o seu prado.
(Jorge Reis-Sá, in "Livro de Estimação")
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