22/11/10

MAIS UM POEMA DO NOVO LIVRO DE JOÃO HABITUALMENTE

Sistema de privilégios

E se de repente defendesse o latifúndio
só para garantir o teu corpo inteiro?

um sistema de privilégios
em que esteja incluída a curva do esterno
a curva que arqueja
quando vimos do ventre

Subo? Não subo?
Ali a meus pés
a meus pés e em minhas mãos
a região soberba das mamas

por que não eriças desta vez os mamilos?
Não falas, não gemes - esperas apenas que eu passe

Sigo o método dos ladrões
e avanço como em propriedade minha
não espero, não me detenho
cansei-me do desejo adiado

a vida é à semana
e teu corpo a festa e o feriado

(poema de João Habitualmente)

19/11/10

Laboratório de Leitura Poética

Para ler por favor clicar sobre a imagem. Obrigada.

O POEMA QUE DÁ NOME AO LIVRO E À SESSÃO

De minha máquina com teu corpo

Indómita trabalhação
a da máquina que tumba
catatumba catatumba catatumba catatumba

insólita baralhação
de minhas roupas com tuas roupas
com minhas roupas

e as máquinas que não param
zumba catrapumba zumba catrapumba
ferro líquido em brasa ferro forjado
estalidos chiadeira metais
válvulas e vapores
desgoverno dos êmbolos
despiste dos pistões
trictchapum trictchapum trictchapum trictchapum

intrépida transfusão
a de meu sangue com teu sangue com meu sangue
com teu sangue
tumba catatumba catatumba catatumba catatumba

incêndio na confusão
de minha máquina com teu ventre
catatumba catatumba
indómita trabalhação
fabril de meu êmbolo
silvo e faísca
febril em teus gritos
tchiaptchapum tchiaptchapum

(poema de João Habitualmente)

18/11/10

O NOVO LIVRO DE JOÃO HABITUALMENTE

Mosaico luso-brasileiro

Povo que lavas no rio
por que não lavas na fonte?

É de pau
é de pedra
numa casa portuguesa concerteza
talhando com teu machado
as tábuas do meu caixão
e depois do adeus
é o fim do caminho
as águas de Março fechando o verão

É de pau é de pedra
o povo que lava no rio
e como bandos de pardais, os putos
dragão tatuado no braço
calção corpo aberto no espaço
o menino é de oiro
é de oiro o meu menino

Gosto muito de te ver, leãozinho
talhando com teus dentinhos
as tábuas do meu caixão
a morte saiu à rua num dia assim
são as águas de março fechando o verão

Na casa da mariquinhas
pão e vinho sobre a mesa
coimbra é uma canção
mesmo depois do adeus
e o rio de janeiro continua lindo
do choupal até à lapa
ainda há povo no rio
são como bandos de pardais
mas por que não vão para a fonte?
vai formosa e não segura
tua pele tua juba
gosto tanto de te ver, mariquinhas
numa casa portuguesa concerteza

Está na hora de embalar as trouxas
e zarpar
são as águas de março nas tábuas do meu caixão

(poema de João Habitualmente)

17/11/10

A FESTA É JÁ NO PRÓXIMO DIA 25 DE NOVEMBRO

Iniciamos hoje a publicação de alguns dos poemas de João Habitualmente que poderão ser lidos no seu novo livro "DE MINHA MÁQUINA COM TEU CORPO", a lançar na próxima sessão das "Quintas de Leitura".

A minha praia

Nada ficará
da pedra sobre pedra
com que fomos compondo nossos ninhos

seremos ruína
arqueologia dum tempo sulfúrico
betão desgastado, ferro torcido

Nada falará
só o cosmos em festa
libertado da sua verruga

Será assim, a nossa ausência:
um silêncio para sempre
nada que perturbe a perfeição dos ventos

mas, por agora
resta ainda a minha praia favorita
com escombros à ilharga
e um mar nítido como nos postais antigos

(poema de João Habitualmente)

08/11/10

“Quintas de Leitura” em sessão festa de lançamento de livro



João Habitualmente apresenta “De minha máquina com teu corpo”

As "Quintas de Leitura", ciclo poético organizado pela Câmara Municipal do Porto, através da Fundação Ciência e Desenvolvimento, fecham o ano com uma grande festa, onde a poesia e a música estarão fortemente presentes.

A sessão, a acontecer a 25 de Novembro, às 22h00, no Café-Teatro do TCA, centra-se à volta do lançamento do 14º livro da "Colecção Cadernos do Campo Alegre" sendo o Poeta convidado, João Habitualmente, o autor do novo livro agora apresentado - "De minha máquina com teu corpo".

A “Colecção Cadernos do Campo Alegre”, publicada através do departamento de Leituras e Editorial da Fundação Ciência e Desenvolvimento, conta já com nomes importantes da Poesia portuguesa como é o caso de valter hugo mãe, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Gonçalo M. Tavares, Filipa Leal, Daniel Jonas e Vasco Gato, entre outros.

Nesta festa, que rouba o título ao livro agora apresentado, participam, nas leituras, os recitadores Teresa Coutinho, Isaque Ferreira e Paulo Campos dos Reis. Uma escolha cirúrgica de poemas de João Habitualmente, espalhados pela sua vasta obra, que nos levarão às lágrimas.

Junta-se à festa a dançarina de striptease Bruna, que "mostrará" a escaldante performance "Nu integral", inspirada e transpirada num dos poemas do novo livro. Com Gainsbourg, de fundo.

Mas, já sabemos, não há "Quintas" sem muita música. Na primeira parte, actuará Vissi d' Arte Emsemble, "comandado" pela desconcertante cantora lírica Mónica Lacerda Pais. Acompanha-a o saxofonista e também cantor lírico Francisco Reis e o pianista João Queirós.

A dupla António Olaio & João Taborda, reforçados com o guitarrista Afonso Almeida, actuam na segunda parte. Um concerto de trinta minutos, intitulado "O mundo em amarelo". Imperdível.

E, no meio disto tudo, vagueia o artista plástico Mário Vitória, autor dos desenhos do novo livro de João Habitualmente. A sessão servirá para mostrar alguns desses desenhos, autênticos gritos surrealizantes que nos atiram para os universos plásticos de Cruzeiro Seixas e Dali.

Uma festa para gente grande - rigorosamente maiores de 18 anos - que contém cenas e linguagem que poderá ferir a susceptibilidade de alguns espectadores. Quem vos avisa...

Por fim, as notícias sensacionais, na boca do programador João Gesta:

“As ‘Quintas de Leitura’ continuam a combater a crise. Desta feita, da forma mais radical de todas: ENTRADA LIVRE, mediante prévio levantamento de bilhete até ao limite máximo da sala”.

NU INTEGRAL

a pele cobre

a roupa tapa

tua pele de cobre

que a roupa destapa

nem a roupa já cobre

nem a pele se tapa

(poema de João Habitualmente, in "De minha máquina com teu corpo")

Entrada livre sujeita a levantamento de bilhete, até ao limite da lotação da sala.

Desenho acima : Mário Vitória.