26/03/10

Ontem à noite: PÕE A CASSETE DA TEMPESTADE

Sónia Baptista (performance)


A actriz Isabel Nunes

Ana Salomé

A bailarina Iris Sofia

Bénédicte Houart

Catarina Nunes de Almeida

Filipa Leal


Marta Bernardes apresentou as Poetas em substituição de Catarina Portas



The Lengendary Tigerman

Fotografias de Sara Moutinho.

22/03/10

AS "QUINTAS" EM CONCERTO:


Fotografia "Legendary Tigerman" por JBMondino

Muita e boa música se anuncia para as próximas sessões.
Fiquem com água na boca:


25 de Março
THE LEGENDARY TIGERMAN

22 de ABRIL
TIAGO GUILLUL & CONVIDADOS (GUEL e LIPE)

27 de Maio
GUTA NAKI

17 de Junho
SEAN RILLEY & SLOWRIDERS
e ainda
RUI LIMA ( "O projecto é Grave!")

15 de Julho
OSSO VAIDOSO(Ana Deus + Alexandre Soares)
Os Dois Tristes Tigres voltam a atacar...

30 de Setembro
SAMUEL ÚRIA

"Quintas de Leitura" ou A MÚSICA DA POESIA.

19/03/10

A POESIA DE FILIPA LEAL

POR UMA LUZ REAL

A rapariga debaixo da luz verde
da árvore
parecia usar a máscara disforme
dos pesadelos.

Era uma imagem nítida,
quase branca.

Fumava.
Olhava-me para dentro do medo
sem rosto
debruçada, lenta, circular.

Era noite.
Eu estava na rua à tua espera.
Na rua não, no carro.
Eu estava no carro de vidros abertos
de olhos abertos
debruçada.

Mas felizmente tu chegaste
com a tua luz real (tão real)
para me interromper o pesadelo.

x-x


QUARTO MINGUANTE

Os adolescentes da cidade
deitavam-se cada vez mais cedo.

Faltava-lhes o espaço para a náusea
desse lugar diminuto,
desse tédio
que só no quarto a sós
lhes denunciava a paixão.

Os adultos da cidade
deitavam-se cada vez mais tarde.

Não suportavam a náusea
desse lugar diminuto,
desse tédio
que no quarto só
lhes denunciava a solidão.

(2 poemas de Filipa Leal, in "A Cidade Líquida e Outras Texturas"/Deriva Editores)

18/03/10

A POESIA DE CATARINA NUNES DE ALMEIDA

Frotografia de Pat

Irei eu se ele for
na cavalgada.

Irei eu a galope em meus pés
veloz por entre as avezinhas
do fundo das águas-furtadas
em águas de lábios furtadas
veloz e espessa como a torrente
de um parto.

Irei eu em todas as minhas mãos
pégasos e ventanias
o corpo preso por um frio gentil
o corpo a tilintar de sonhos.

Serei eu o que ele for
na cavalgada.

Irei eu sem música sem mesa posta
dar-lhe prato verde
onde caibamos os dois dar-lhe
este emudecimento este abatimento cardíaco
da floresta.

x-x

Cântico dos Cântaros

Voltando um pouco atrás
à costura das fotografias
àquela escuridão pulmonar onde te vi
pela primeira vez onde eras
mais que certo quase cavalo
quase branco
a galope nos meus dentes.
Fotografias do tempo em que chamavas
árvore de rapina ao instrumento
que te educava os dedos.
Um dedilhar de amigo
à beira do vinhal.
Um encantar de amigo.

Se te deixasse ficar à sombra
haveria ainda as linhas da tua mão
tão irregulares tão imponderáveis
como a chuva nas boas noites.
Haveria ainda o perfume das grainhas
na primeira curva da manhã.
Era no tempo das fotografias.
Agora, dizes tu, há o orvalho dos murtais
um cesto silencioso e humano.

Nunca saberás que isso a que chamas
silêncio orvalho
eu chamo música
e toco-a.

(2 poemas de Catarina Nunes de Almeida)

17/03/10

A poesia de Bénédicte Houart

o elefante apodrece
no exterior do café portugal
ninguém lhe põe moedas
ninguém empoleirado
aos solavancos, ninguém

as moedas mudaram
as crianças cresceram
os adultos ganharam juízo e amealharam
para elefantes de verdade
com bosta e tudo

se não pelo teu próprio nome
por que nome responderás tu então?

x - x

fui aos perdidos e achados
minha senhora disse-me o polícia
sua o caraças senhora talvez
aqui não recolhemos objectos dessa natureza
tão pouco material
juraria ter ouvido comercial
vá antes à câmara municipal
serviço de saneamento básico
resíduos esgotos sarjetas
em suma, escoamentos
coisa que como podeis ler
não fiz nem farei
se ele se perdeu, compreendi afinal, foi porque quis
nunca se deve contrariar poema tão original

x - x

tenho um mamilo sempre erecto e
outro sempre murcho
ora bem,
a interpretação que faço do fenómeno
embora duvidando que entusiasme alguém
é a seguinte:
um pressente coisas de que o outro nem suspeita
coitado do primeiro
quando não há nada
coitado do segundo
se quiser arrebitar

(3 poemas de Bénédicte Houart, in "Vida:Variações"/ Cotovia)
O Primeiro de Janeiro, 17 de Março de 2010. Para ler clicar sobre a imagem, por favor.

16/03/10

A POESIA DE ANA SALOMÉ

Ode Cesariny

Para todos os que amam como a estrada começa.

queria de ti um país
um arco de sol para brincar nas manhãs
a roda das tuas mãos na cintura
engravidando de deslumbre
e a urdidura dos filhos
para além da alegria.
queria que entumecesses o tempo
dentro de maçãs relidas
em poemas sobre a mesa.
no teu jeito de apertares os lábios
e me fechares numa sílaba
queria de nós um país
juntando-se a outro.
compor o tratado dos nossos beijos
na morfologia das estrelas
que encimam esta solidão
faz-me querer de ti
se não um país o coração
da tua cidade
coisa tanta e pouca
alguma coisa só

um beijo talvez
que retenha a bruma
de avançar sobre Portugal
e me tome de vez
o destino por invisível.

(Ana Salomé, in "Odes"/Editora Canto Escuro)

15/03/10

A POESIA DAS NOSSA CONVIDADAS

Damos hoje um cheirinho do universo poético que nos espera no próximo dia 25 de Março. Poesia a quatro vozes.


Fui uma criança medrosa.
Tinha, como todas as crianças,
medo do escuro.
A minha irmã dizia-me: pensa no Mickey.
E eu calava-me e ficava perplexa a pensar:
mas porquê o Mickey.

(Filipa Leal, poema inédito)


Uma pedra

Atiro uma pedra à noite
a noite desfaz-se em aros
e há silêncio e solenidade
e trabalho o poema
com nova pedra na mão
mas não acuso tento salvar
aquilo a que me disponho
aquilo a que venho
sem temas nem fios
frente à grande boca da noite
com fome de nomes de coisas
maiores do que nós
que adormecemos sem querermos
na pouca luz que faz.

(Ana Salomé, poema inédito)


Meu amigo perdoa-me
se espantei as gazelas
para um canto do sotão
se me cresceram músculos neste olhar-te
neste cuidar que dá cuidado.
Mas do alto dos seios
no ruir das lamparinas
vale a pena olhar-te. Daqui
da mais sincera pobreza
onde permaneces apenas tu
adão e erva
e o céu manchado pelas libelinhas.

(Catarina Nunes de Almeida)



e por vezes os afogados
voltam à tona de água
pois desejam de novo atirar-se
ainda não esgotaram o desespero
ainda não esperam completamente
ainda temem que nada chegue
não sabem ainda que já ninguém virá
que mesmo o mergulho foi em vão
que tudo a água lava, mas a vida não

(Bénédicte Houart, poema inédito)

10/03/10


Um espectáculo no feminino

Depois do estrondoso sucesso da sessão 100

“Põe a cassete da tempestade” é o título da próxima sessão das "Quintas de Leitura", ciclo poético promovido pela Câmara Municipal do Porto, através da Fundação Ciência e Desenvolvimento, que no passado dia 25 de Fevereiro celebrou a sua sessão número 100.

As "Quintas de Leitura" voltam à carga a 25 de Março, às 22h00, no Auditório do TCA. Carga poética de altíssima voltagem. Um espectáculo pensado no feminino, que reúne, à volta de um verso, quatro vozes singulares e insubmissas da novíssima poesia portuguesa: Ana Salomé, Filipa Leal, Catarina Nunes de Almeida e Bénèdicte Houart.

As poetas convidadas lerão muitos textos inéditos, de sua autoria, destacando-se entre eles um texto de homenagem a Adília Lopes, escrito por Filipa Leal.

A apresentação da sessão estará a cargo de Catarina Portas, que fará, assim, a sua estreia nas "Quintas de Leitura". O espectáculo contará com dois momentos dedicados ao Movimento: a performer e bailarina Sónia Baptista vai surpreender-nos com a peça "Secrétaire"- dez irrepreensíveis minutos de dança; e, da Noruega, chega Iris Sofia, dançarina profissional de dança do ventre. Um momento que não esquecerá mais.

Refira-se ainda que a desconcertante artista plástica Isabel Padrão assina a imagem do espectáculo. Um trabalho inspirado no universo poético das escritoras convidadas.

Depois de um retemperador intervalo, adivinha-se um concerto memorável de Paulo Furtado, "The Legendary Tigerman". Uma "one-man band" na tradição dos velhos blues do Delta do Mississipi. Tocará temas do seu novo e aclamado disco "Femina". Tudo a propósito, num espectáculo dedicado à mulher e à sua beleza.

Junte-se a nós. A razão já é conhecida: ninguém pode viver sem poesia.

Bilhetes a 9,00 e 6,00 Euros. Espectáculo para maiores de 16 anos (bem contados).


é uma casa de passagem onde

se vê o mar quando

a puta veste o fato de marinheiro e

põe a cassete da tempestade

(poema de Bénèdicte Houart)

A próxima sessão é vezes quatro no feminino

09/03/10

uma notícia atrasada que merece ser lida

Revista Visão em 25 de Fevereiro de 2010. Para ler clicar sobre a imagem.

Uma noite inesquecível celebrou a sessão 100 das Quintas de Leitura.

Abertura da sessão com mensagem do Presidente da Câmara Municipal do Porto, pela vereadora do Pelouro do Conhecimento e Coesão Social e presidente do Conselho de Administração da Fundação Ciência e Desenvolvimento, Prof. Doutora Guilhermina Rego.



As apresentadoras da sessão Adriana Faria e Teresa Coutinho leram textos de João Gesta, Adília Lopes, Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Miguel-Manso, Mário Henrique Leiria, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, José Luís Peixoto e António Gancho.






Apresentação de alguns dos recitadores seleccionados no casting efectuado no final do ano passado - Ana Catarina Barbosa, Ana Paiva, Rita Machado, Manuel Tur, Susana Guimarães e Valdemar Santos (leituras) e Ana Celeste Ferreira (Leituras e canto):








Os novos recitadores leram poemas de Al Berto, Ernesto Sampaio, José Gomes Ferreira, António José Forte, Fernando Pessoa, Filipa Leal, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Herberto Helder, José Carlos Ary dos Santos, Alexandre O'Neill, Gonçalo M. Tavares, Manuel António Pina, Adília Lopes, Ana Hatherly, José Miguel Silva, Mário Henrique Leiria e Alberto Pimenta.



O jovem pianista Raúl Peixoto da Costa interpretou peças de Chopin
a propósito dos 200 anos do compositor.


Pedro Lamares apresentou "O Fraseador", uma partilha de textos e vivências.




B Fachada, acompanhado pelo contrabaixista Martim Torres, apresentou o seu novo disco.



Fotografias de Sara Moutinho.