09/12/08

OS POETAS DAS "QUINTAS"/ ADOLFO LUXÚRIA CANIBAL

WHITE LIGHT / WHITE HEAT

como fomos belos esta noite!...

o nosso perfil grego / pássaro / artista / nirvana
atravessou incólume a Babilónia -
a cidade sob o controle da mente.
faiscantes / olhos nos olhos / maravilhados
perdemos as referências;
invulneráveis, prostramos noctívagos bêbados
apenas com a força do plasma.

no prostíbulo, a deusa negra
dançou só para nós a dança da sedução -
em tons de roxo e amarelo
o fascínio do corpo e do sexo
a plástica perfeita do absoluto.

white light / white heat.

a Amália fez-se ouvir nostálgica / lírica / terna
cantando o Fado de Peniche na jukebox do canto -
a saudade, a paixão, a bruma
num ondear suave e indolente.
marinheiros navegámos para lá do nevoeiro
libertos do corpo em integração universal.

as palavras tornadas obsoletas
o poeta não passa dum aprendiz nos mistérios do infinito.

adquirimos um barco de pôr em cima do televisor
ao primeiro Dali que encontramos
e caravelas ou veleiros percorremos os mares
a depositar a nossa bondade longe da acção do tempo.

quando sentimos uma sombra presa a nós abanamo-nos
com os Sex Pistols cáusticos / vertigem / suor / espelhos.
imagem por demais bela / ácida / metálica / ascética.

invocamos S. Manso e o manso cordeiro
em feitiços de namorados.
concentrados rompemos as nuvens
e deixamos que a lua cheia nos banhasse a fronte -
as águas revoltas / jubilantes...

ah, como fomos belos esta noite!

(Adolfo Luxúria Canibal, in "Estilhaços")

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