OS FORASTEIROS NUNCA TÊM RAZÃO
É um sonho como outro qualquer:
Estamos a ler o jornal, Lisboa
bate à porta das traseiras.
O trajecto de fuga parece ser de confiança.
Por mera precaução,
levamos as palavras connosco.
Peças perdidas do puzzle,
tratamos dos mais pequenos pormenores
e caímos quase sempre em emboscadas.
Enfim, os forasteiros nunca têm razão.
Mas de que adianta resistir,
se em parte já perdemos o que somos?
*
TESEU SEM MINOTAURO
para o Manuel de Freitas
Como em qualquer labirinto, estas esquinas
apenas garantem que não há certezas
na direcção do futuro. Lisboa
nunca foi como em tempos a sonhei.
E contudo venho aqui em peregrinação
habitual, sem tão-pouco saber que lhe pedir.
Indecisões da fé e da sua alavanca diminuta,
à qual desmesuradamente chamamos coração.
*
INTERMITÊNCIAS
para o Rui Pires Cabral
Sou talvez aquele a quem não doeu tanto
a mesma terra. Perguntas se admitiria trocá-la por
Lisboa, a cidade onde as montanhas se não vêem.
Mas que diferença faz? Bem o sabemos,
ninguém se entrega a uma cidade em absoluto.
Um e outro, cá e lá, estamos apenas de passagem.
A auto-estrada é um sorriso cem à hora
que segura pelas pontas amizades como a nossa.
Vai-te embora, se assim tiver de ser, mas continua
a enviar-me os teus poemas por e-mail.
(Vítor Nogueira, in "Bagagem de Mão"/ &etc.)
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