BRAÇO DE PRATA
a barba cresceu entre Lisboa
Bruxelas e a sala Visconti imagino
que a não tenha cortado durante todo o tempo
de vida de uma filha que perfazia então
a diminuta idade de três meses
o poeta já não quer escrever tem os pés
dentro de um rio interior recostado na inclinação
arenosa da margem olha o outro flanco
onde um motor de rega arruína
o silêncio dos salgueiros
o inesperado salto das percas
a tarde inteira
o poeta já não quer escrever usa o microfone
olha a plateia faz filhas
depois encostou-se ao balcão da sala Deleuze
pediu a cerveja vítrea fria orvalhada da sala Deleuze
foi quando dentro dele
dentro do intrincado rizoma de dentro dele
se elegeu em silêncio a mulher daquela noite
procurou-a com o olhar entre as mesas
viu-a sentada na mais chegada ao piano
falando de uma fotografia nocturna que tirou no
cemitério de uma cidade inglesa cujo nome
se me lembrasse ficaria bem neste verso
fechou os olhos viu a prateada superfície do mar
entrou no seu elemento primário - a água - deu mais um gole
na cerveja fez as contas
ao difícil enigma do amor
(poema de Miguel-Manso)
Sem comentários:
Enviar um comentário