23/03/09

É JÁ NA PRÓXIMA QUINTA-FEIRA A SESSÃO COM A POETA FILIPA LEAL

Vénus de Milo

Rendi-me
quando a falta de tempo
lambeu o meu suor
numa insónia eterna

Desisti da linguagem
quando mergulhei
no amplo sufoco das palavras
com os minutos contados

Cortei ambos os braços
quando não pude esticá-los
para vos abraçar

*

Quero coleccionar os teus passos,
os teus gestos, os teus traços...
Guardá-los em páginas de seda...
Suaves, como tu...
E oferecer-te uma larga medalha,
espelhar o profundo clarão
que rodeia a tua face...
Adorar-te como quem adora um deus,
com a placidez crente dos fiéis...
Acreditar como quem é eterno
e crê e vive a eternidade...
Reconheço a flauta muda
enterrada nas salas que pisaste...
Herdei os cânticos sagrados
e hoje sonho com as tuas mãos
levantadas para agarrar o divino.

(Filipa Leal, in "Talvez os Lírios Compreendam"/Cadernos do Campo Alegre)

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