COMO UM METALÚRGICO DA LUÍSNAVA
Que uma musa metálica redime
E faz dum vulcão cama e os lençóis lava,
Soldo a métrica, malho p'ra que rime.
Toco a afiada lira, tanjo o meu aço,
Na homérica bigorna chispa e liça.
Silvam sereias, chamam-me ao regaço,
Ítaca estanca a dor, Ática atiça-a.
Como operário do verso blindo a nave
Que ao leme outro almirante levará;
Levo-me a mim à vela, o argueiro é trave:
Neste solo outro mastro cantará.
E se o cálamo às vezes carpe as bulhas
Das carúnculas saem-me faúlhas.
(Daniel Jonas, in "Sonótono")
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