Mais um desconcertante poema de Adília Lopes, poeta pop e nem por isso:
D. Sebastião e Mariana Alcoforado
A minha prisão
está cheia
de nevoeiro
O meu convento
está cheio
de vento
No nevoeiro
não tenho
paradeiro
No vento
não tenho
contento
Passo os dias
com as minhas tias
Eu também
Estou farto
do meu parto
Estou farta
de Esparta
Um bispo
não resolve isto
(in "Obra", Mariposa Azual)
31/10/08
30/10/08
UM RECITAL QUE APETECE LEVAR PARA CASA
Um verso de Alexandre O'Neill, que por acaso são dois, dão nome à próxima sessão das "Quintas de Leitura". "Irene!Irene!Sirva o leite-creme!" realiza-se no próximo dia 20 de Novembro, às 22h00, no Café-Teatro do TCA.
Uma verdadeira festa da poesia que marca o encontro histórico entre dois colectivos poéticos acima de todas as suspeitas: O COPO, poesia de entretenimento científico pela boca e pelos cotovelos de Paulo Condessa e Nuno Moura, e a Caixa Geral de Despojos, que alinha, desta feita, com três avançados bons de cabeça: Pedro Lamares, Isaque Ferreira e Daniel Maia-Pinto Rodrigues.
O prato da noite é irresistível: textículos salteados de Adília Lopes, Alberto Pimenta, Daniel Maia-Pinto Rodrigues e Joaquim Castro Caldas.
Prometemos: um recital com jantes alargadas, um recital com as vacinas em dia, um recital com curvas francesas, um recital com o futuro a tiracolo, um recital a pensar noutra coisa, um recital que parece dois. Por fim: um recital com o cunho da flamejante parelha João Gesta - Mafalda Capela. Ele, futuro preparador físico da selecção do Mali, ela, futura Ministra das Pescas e arredores. Gente sem jeito para o negócio, diga-se.
Registam-se, nesta noite, as estreias nas "Quintas de Leitura" da artista plástica Manuela Pimentel , responsável pela imagem da sessão (a imagem acima é dela), e ainda da performer Mariana Rocha que apresentará a peça "Curta-mixagem".
E no fim disto tudo, chega de Cuba, a tempo e horas, o pianista e compositor Carlos Maza. Dar-nos-á a conhecer o projecto "Trotamundo".
Um recital que apetece levar para casa.
Espectáculo para maiores de 16 anos, exactamente porque sim.
ADÍLIA LOPES, SEMPRE!
Mais alguns imarcescíveis momentos com Adília Lopes:
Amo-te
1
A serpente do Paraíso
era de plástico
biodegradável
2
Não sou
uma poetisa obscura
a literatura
não me fez
bizarra
e não é uma parra
3
Sem caridade
a literatura
não vale
4
Conheço o pão
que o Diabo
amassou
e o maná
5
Não me basta
este jacarandá
(in "Obra", Mariposa Azual)
Amo-te
1
A serpente do Paraíso
era de plástico
biodegradável
2
Não sou
uma poetisa obscura
a literatura
não me fez
bizarra
e não é uma parra
3
Sem caridade
a literatura
não vale
4
Conheço o pão
que o Diabo
amassou
e o maná
5
Não me basta
este jacarandá
(in "Obra", Mariposa Azual)
29/10/08
-Irene!Irene!Sirva o leite-creme!
O COPO, distinto colectivo poético da Lísbia, apresentará uma intervenção composta exclusivamente por poemas de Adília Lopes.
Publicaremos, a partir de hoje, para aguçar o apetite aos seguidores das "Quintas", alguns poemas dessa inefável poeta.
Dois casos citados por Christian Lacroix
Uma freira
passou a vida
a passajar
tom sobre tom
o mesmo avental
azul escuro
Um funcionário público
coleccionou
a vida inteira
a publicidade
que lhe metiam
na caixa do correio
x
Andou
pelas casas
de Deus
a pedir Deus
às pedras
e as pedras
deram-lhe Deus
x
A tua carta
é palpável
cheirável
e beijável
tu não
porque estás
muito longe
de mim
(tenho pena
que seja
assim)
x
Ela fodeu
mas não
como eu
x
No cacilheiro
o namorado beija
a namorada
mas por cima
do ombro dela
olha-me
com muita curiosidade
(Adília Lopes in "Obra", Mariposa Azual)
28/10/08
Ainda
- IRENE! IRENE! SIRVA O LEITE-CREME!
Estes versos de Alexandre O´Neill dão nome à próxima sessão das "Quintas de Leitura".
Realiza-se no dia 20 de Novembro, às 22h00, no Café-Teatro do TCA. Os bilhetes para este espectáculo serão postos à venda a partir das 13h00 de hoje.
Participam nesta mega-festa da poesia os seguintes artistas:
Leituras
O COPO (Nuno Moura e Paulo Condessa)
CAIXA GERAL DE DESPOJOS (Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Isaque Ferreira e Pedro Lamares)
Textos
Adília Lopes, Alberto Pimenta, Daniel Maia-Pinto Rodrigues e Joaquim Castro Caldas
Imagem
Manuela Pimentel
Performance
Mariana Rocha (apresenta a peça "Curta-mixagem)
Música
Carlos Maza (pianista e compositor) / projecto "Trotamundo"
Concepção e coordenação
João Gesta e Mafalda Capela
Um recital que apetece levar para casa...
Realiza-se no dia 20 de Novembro, às 22h00, no Café-Teatro do TCA. Os bilhetes para este espectáculo serão postos à venda a partir das 13h00 de hoje.
Participam nesta mega-festa da poesia os seguintes artistas:
Leituras
O COPO (Nuno Moura e Paulo Condessa)
CAIXA GERAL DE DESPOJOS (Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Isaque Ferreira e Pedro Lamares)
Textos
Adília Lopes, Alberto Pimenta, Daniel Maia-Pinto Rodrigues e Joaquim Castro Caldas
Imagem
Manuela Pimentel
Performance
Mariana Rocha (apresenta a peça "Curta-mixagem)
Música
Carlos Maza (pianista e compositor) / projecto "Trotamundo"
Concepção e coordenação
João Gesta e Mafalda Capela
Um recital que apetece levar para casa...
23/10/08
Podemos encontrar referência ao recital de hoje - A noite abre meus olhos -na internet, entre outros, nestes sítios (clicar):
PnetLiteratura
SNPC
Educare
PnetLiteratura
SNPC
Educare
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA HOJE NAS "QUINTAS DE LEITURA"
Em jeito de despedida, publicamos hoje o poema que fecha o recital. Será lido pela actriz Sofia Grillo.
Endzeit
Atrás de ti o caminho luminoso
como se o abismo tivesse uma cabeleira branca
José Tolentino Mendonça
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Endzeit
Atrás de ti o caminho luminoso
como se o abismo tivesse uma cabeleira branca
José Tolentino Mendonça
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
22/10/08
A NOITE ABRE MEUS OLHOS
Filipa Leal lerá na sessão de amanhã "A rapariga de Providence", um poema de José Tolentino Mendonça:
A rapariga de Providence
Um nome arde tanto
de repente todos os caminhos parecem de regresso
a vida por si mesma não se pode escutar demasiado
a vida é uma questão de tempo
um sopro ainda mais frágil
a rapariga desce à pequena praça,
compra uma flor para ter na mão
uma forma intemporal de conservar
a perfeição ou a incerteza
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
A rapariga de Providence
Um nome arde tanto
de repente todos os caminhos parecem de regresso
a vida por si mesma não se pode escutar demasiado
a vida é uma questão de tempo
um sopro ainda mais frágil
a rapariga desce à pequena praça,
compra uma flor para ter na mão
uma forma intemporal de conservar
a perfeição ou a incerteza
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
OLD JERUSALEM

O songwriter Francisco Silva regressa às Quintas de Leitura amanhã à noite, na sessão dedicada à poesia de José Tolentino Mendonça.
Tudo sobre o projecto OLD JERUSALEM de Francisco Silva clicando aqui.
Fotografia de Leonel Sousa
21/10/08
Atenção ! Alteração ao espectáculo

Por motivos de saúde a fadista Aldina Duarte não poderá participar na sessão dedicada à poesia de José Tolentino Mendonça, na próxima Quinta-feira, dia 23 Outubro, às 22h00. Em seu lugar actuará o songwriter Francisco Silva (Old Jerusalem).
José Tolentino Mendonça
nas Quintas de Leitura
"Não avances tão depressa, minha noite" (José Tolentino Mendonça)
A noite de 23 de Outubro marca a estreia do Poeta e teólogo José Tolentino Mendonça nas "Quintas de Leitura" do TCA.
Intitulada "A noite abre meus olhos", a sessão dedicada a Tolentino contará com a presença do songwriter Francisco Silva – OLD JERUSALEM – música alternativa, pop e folk. Francisco Silva interpretará alguns dos seus maiores êxitos dos seus três álbuns já editados por uma das actuais editoras de referência Borland.
As leituras perpassam toda a obra poética de Tolentino e estarão, desta feita, a cargo dos actores Sofia Grillo, Pedro Lamares e Paulo Campos dos Reis e da poeta Filipa Leal.
A performer Sónia Baptista, presença habitual nas "Quintas de Leitura", apresentará, em estreia absoluta, a peça "Da Anatomia do Caracol", inspirada nos versos de Tolentino Mendonça.
Refira-se, por fim, a estreia da conhecida artista plástica Ilda David' neste ciclo poético. Ficaremos a dever-lhe as inolvidáveis imagens da sessão.
Uma noite de estreias e de estrelas fulgentes que darão Luz à sua existência.
José Tolentino Mendonça
nas Quintas de Leitura
"Não avances tão depressa, minha noite" (José Tolentino Mendonça)
A noite de 23 de Outubro marca a estreia do Poeta e teólogo José Tolentino Mendonça nas "Quintas de Leitura" do TCA.
Intitulada "A noite abre meus olhos", a sessão dedicada a Tolentino contará com a presença do songwriter Francisco Silva – OLD JERUSALEM – música alternativa, pop e folk. Francisco Silva interpretará alguns dos seus maiores êxitos dos seus três álbuns já editados por uma das actuais editoras de referência Borland.
As leituras perpassam toda a obra poética de Tolentino e estarão, desta feita, a cargo dos actores Sofia Grillo, Pedro Lamares e Paulo Campos dos Reis e da poeta Filipa Leal.
A performer Sónia Baptista, presença habitual nas "Quintas de Leitura", apresentará, em estreia absoluta, a peça "Da Anatomia do Caracol", inspirada nos versos de Tolentino Mendonça.
Refira-se, por fim, a estreia da conhecida artista plástica Ilda David' neste ciclo poético. Ficaremos a dever-lhe as inolvidáveis imagens da sessão.
Uma noite de estreias e de estrelas fulgentes que darão Luz à sua existência.
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA NAS "QUINTAS DE LEITURA".
O actor Pedro Lamares lerá na sessão da próxima quinta-feira este poema de José Tolentino Mendonça:
Sobre um improviso de John Coltrane
Ainda espero o amor
como no ringue o lutador caído
espera a sala vazia
primeiro vive-se e não se pensa em nada
não me digam a mim
com o tempo apenas se consegue
chegar aos degraus da frente:
é difícil
é cada vez mais difícil entrar em casa
não discuto o que fizeram de nós estes anos
a verdade é de outra importância
mas hoje anuncio que me despeço
à procura de um país de árvores
e ainda se me deixo ficar
um pouco além do razoável
não ouvem? O amor é um cordeiro
que grita abraçado à minha canção
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Sobre um improviso de John Coltrane
Ainda espero o amor
como no ringue o lutador caído
espera a sala vazia
primeiro vive-se e não se pensa em nada
não me digam a mim
com o tempo apenas se consegue
chegar aos degraus da frente:
é difícil
é cada vez mais difícil entrar em casa
não discuto o que fizeram de nós estes anos
a verdade é de outra importância
mas hoje anuncio que me despeço
à procura de um país de árvores
e ainda se me deixo ficar
um pouco além do razoável
não ouvem? O amor é um cordeiro
que grita abraçado à minha canção
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
20/10/08
MAIS UM POEMA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Uma coisa a menos para adorar
Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis
entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto
arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa
há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo
hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome
( in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis
entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto
arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa
há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo
hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome
( in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
17/10/08
É JÁ NA PRÓXIMA QUINTA-FEIRA A SESSÃO COM O POETA JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Um dos poemas que será lido na sessão:
Plumas
Através da terra o amor
torna-nos estranhos à terra
liga-nos a uma divina linhagem
com seu tormento inapagável
suas velocidades enormes
O amor vive na ponta dos cabelos
O amor, ditam os frios de coração, é ruinoso
qualquer momento em chamas
denunciará a imprecisa inquietação que nos toma
Os inocentes que se amam dizem
teu corpo está a nevar
tua alma é uma flor
um prado tranquilo sua noite
Os inocentes que se amam
por seu tormento elevam-se
como plumas
num chapéu de passeio
José Tolentino Mendonça
Plumas
Através da terra o amor
torna-nos estranhos à terra
liga-nos a uma divina linhagem
com seu tormento inapagável
suas velocidades enormes
O amor vive na ponta dos cabelos
O amor, ditam os frios de coração, é ruinoso
qualquer momento em chamas
denunciará a imprecisa inquietação que nos toma
Os inocentes que se amam dizem
teu corpo está a nevar
tua alma é uma flor
um prado tranquilo sua noite
Os inocentes que se amam
por seu tormento elevam-se
como plumas
num chapéu de passeio
José Tolentino Mendonça
16/10/08
A POESIA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Um poema de José Tolentino Mendonça, que será lido por Filipa Leal na sessão do próximo dia 23 de Outubro:
Diálogo para um personagem
de Andrei Tarkovskii
dizer-te é inclinar-me
sobre o
silêncio
faz que eu seja
o choupo
todo dobrado
na face pressentida
das águas
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Diálogo para um personagem
de Andrei Tarkovskii
dizer-te é inclinar-me
sobre o
silêncio
faz que eu seja
o choupo
todo dobrado
na face pressentida
das águas
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
15/10/08
HERBERTO HELDER, OUTRA VEZ
14/10/08
UMA PAUSA NA CRISE

O mais recente livro de Herberto Helder - "A faca não conta o fogo", 3.000 exemplares, Assírio & Alvim"- esgotou em poucas horas.
Para quem não teve a felicidade de o conseguir adquirir, aqui vos deixo um dos poemas que mais me fascinou:
(na morte de Mário Cesariny)
corpos visíveis,
nobilíssimos,
inseparável luz que move as coisas,
ter um inferno à mão seja qual for a língua,
toda a água é inocente e escoa-se entre as unhas,
à porta do forno crematório alguém lhe toca,
vai lá, vai que te acolham, brilha, brilha muito, brilha tanto quanto não
possas, brilha acima,
faz brilhar a mão que melhor redemoinha,
a mão mais inundada,
e ele entra sem esperança nenhuma,
só na última linha quando o coração rebenta,
reconhece quem o olha
Herberto Helder
Para quem não teve a felicidade de o conseguir adquirir, aqui vos deixo um dos poemas que mais me fascinou:
(na morte de Mário Cesariny)
corpos visíveis,
nobilíssimos,
inseparável luz que move as coisas,
ter um inferno à mão seja qual for a língua,
toda a água é inocente e escoa-se entre as unhas,
à porta do forno crematório alguém lhe toca,
vai lá, vai que te acolham, brilha, brilha muito, brilha tanto quanto não
possas, brilha acima,
faz brilhar a mão que melhor redemoinha,
a mão mais inundada,
e ele entra sem esperança nenhuma,
só na última linha quando o coração rebenta,
reconhece quem o olha
Herberto Helder
13/10/08
AINDA A POESIA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Começar a semana a publicar um poema de José Tolentino Mendonça dá saúde e faz crescer.
Assim sendo, não hesitei:
Avisos
Explosões ouviam-se cada vez mais perto na baía
mas dizia-se são pescadores furtivos
amanhã veremos centenas de pequenos peixes
mortos pela praia.
um vento ríspido trazia do deserto
nuvens de areia
depositava às portas e nos telhados
uma muda ameaça
(in "A noite abre meus olhos/ poesia reunida", Assírio & Alvim)
Assim sendo, não hesitei:
Avisos
Explosões ouviam-se cada vez mais perto na baía
mas dizia-se são pescadores furtivos
amanhã veremos centenas de pequenos peixes
mortos pela praia.
um vento ríspido trazia do deserto
nuvens de areia
depositava às portas e nos telhados
uma muda ameaça
(in "A noite abre meus olhos/ poesia reunida", Assírio & Alvim)
10/10/08
Mudamos de cara!
Um belo dia para mudar.
Após 25 mil páginas visitadas neste blogue resolvemos
mudar de cara, ou pelo menos de cabeçalho.
Fica aqui o mote que encabeçou este blogue desde a sua nascença até hoje.

NOVALIS, por nós:
A poesia é o autêntico real absoluto. Isto é o cerne da minha filosofia.
Quanto mais poético, mais verdadeiro.
Após 25 mil páginas visitadas neste blogue resolvemos
mudar de cara, ou pelo menos de cabeçalho.
Fica aqui o mote que encabeçou este blogue desde a sua nascença até hoje.

NOVALIS, por nós:
A poesia é o autêntico real absoluto. Isto é o cerne da minha filosofia.
Quanto mais poético, mais verdadeiro.
AINDA A POESIA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Publicamos hoje o poema que abre a sessão de 23 de Outubro. Será lido pelo actor Pedro Lamares.
A infância de Herberto Helder
No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas
Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos
Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva
Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito
Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio
Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios
Isto foi antes
de aprender a álgebra
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
A infância de Herberto Helder
No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas
Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos
Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva
Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito
Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio
Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios
Isto foi antes
de aprender a álgebra
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
09/10/08
A MULHER DESCONHECIDA

Mais um poema de José Tolentino Mendonça. Será lido, na sessão de 23 de Outubro, pelo actor Pedro Lamares.
A mulher desconhecida
É muito bela esta mulher desconhecida
que me olha longamente
e repetidas vezes se interessa
pelo meu nome
eu não sei
mas nos curtos instantes de uma manhã
ela percorreu ásperas florestas
estações mais longas que as nossas
a imposição temível do que
desaparece
e se pergunta tantas vezes o meu nome
é porque no corpo que pensa
aquela luta arcaica, desmedida se cravou:
um esquecimento magnífico
repara a ferida irreparável
do doce amor
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida, Assírio & Alvim)
A mulher desconhecida
É muito bela esta mulher desconhecida
que me olha longamente
e repetidas vezes se interessa
pelo meu nome
eu não sei
mas nos curtos instantes de uma manhã
ela percorreu ásperas florestas
estações mais longas que as nossas
a imposição temível do que
desaparece
e se pergunta tantas vezes o meu nome
é porque no corpo que pensa
aquela luta arcaica, desmedida se cravou:
um esquecimento magnífico
repara a ferida irreparável
do doce amor
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida, Assírio & Alvim)
Fotografia de Pat
08/10/08
"Os dias contados" de José Tolentino Mendonça

A actriz Sofia Grillo lerá, na sessão de 23 de Outubro, este belo poema de José Tolentino Mendonça:
Travessa da infância
Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas
lembro-me de uma janela
na Travessa da Infância
onde seguindo o rumor dos autocarros
olhei pela primeira vez
o mundo
não sei se poderás adivinhar
a secreta glória que senti
por esses dias
só mais tarde descobri que
o último apeadeiro de todos
os autocarros
era ainda antes
do mundo
mas isso foi
muito depois
repito
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Travessa da infância
Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas
lembro-me de uma janela
na Travessa da Infância
onde seguindo o rumor dos autocarros
olhei pela primeira vez
o mundo
não sei se poderás adivinhar
a secreta glória que senti
por esses dias
só mais tarde descobri que
o último apeadeiro de todos
os autocarros
era ainda antes
do mundo
mas isso foi
muito depois
repito
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Fotografia de Mafalda Capela
07/10/08
A POESIA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Publicamos hoje mais um dos poemas que será lido na sessão do dia 23 de Outubro.
Revelação
Meu o ofício incerto das palavras
a evocação do tempo
o recurso ao fogo
Meu o provisório olhar
sobre este rio
o fascínio consentido das margens
sitiando a distância
Meus são os dedos que em tumulto
modelam capitéis
de sombra e arestas
Mas oculto na brisa
és Tu quem percorre o poema
despertando as aves
e dando nome aos peixes
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Revelação
Meu o ofício incerto das palavras
a evocação do tempo
o recurso ao fogo
Meu o provisório olhar
sobre este rio
o fascínio consentido das margens
sitiando a distância
Meus são os dedos que em tumulto
modelam capitéis
de sombra e arestas
Mas oculto na brisa
és Tu quem percorre o poema
despertando as aves
e dando nome aos peixes
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
06/10/08
A NOITE ABRE MEUS OLHOS
23 de Outubro no TCA: uma noite cheia de estrelas fulgentes.
Poesia
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Música
ALDINA DUARTE
acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Carlos Manuel Proença (viola de fado)
Leituras
FILIPA LEAL, SOFIA GRILLO, PAULO CAMPOS DOS REIS e PEDRO LAMARES
Performance
SÓNIA BAPTISTA
Imagem
ILDA DAVID'
"Não avances tão depressa, minha noite" (José Tolentino Mendonça)
Poesia
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Música
ALDINA DUARTE
acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Carlos Manuel Proença (viola de fado)
Leituras
FILIPA LEAL, SOFIA GRILLO, PAULO CAMPOS DOS REIS e PEDRO LAMARES
Performance
SÓNIA BAPTISTA
Imagem
ILDA DAVID'
"Não avances tão depressa, minha noite" (José Tolentino Mendonça)
25.000 PÁGINAS VISITADAS DO NOSSO BLOGUE
Obrigado a todos os que, dia a dia, nos ajudam a crescer. Juntos, virados para o Futuro e de mãos dadas com o Sonho, construiremos um mundo com mais Amor e mais Liberdade.
Este poema é para si, que ainda acredita que a Poesia pode ajudar a transformar o mundo.
SOCORROS MÚTUOS
Códigos indecifráveis, demasiados
segredos. A mente precisa de ajuda
para se libertar de certas coisas.
Voam os pássaros, sem nada
que os prenda. Andamos por aí
até acabar a gasolina.
Sim, Lisboa, tenho medo.
E não me envergonho disso.
De resto, há momentos em que
esse factor pouco importa.
Como quando erguemos
as mãos acima da cabeça
e avançamos para a luz.
Virá talvez o dia em que fraqueje.
Quem sabe, podemos fazer isso juntos.
Assim ninguém sai a perder.
(poema de Vítor Nogueira, in "Bagagem de Mão", &etc)
Este poema é para si, que ainda acredita que a Poesia pode ajudar a transformar o mundo.
SOCORROS MÚTUOS
Códigos indecifráveis, demasiados
segredos. A mente precisa de ajuda
para se libertar de certas coisas.
Voam os pássaros, sem nada
que os prenda. Andamos por aí
até acabar a gasolina.
Sim, Lisboa, tenho medo.
E não me envergonho disso.
De resto, há momentos em que
esse factor pouco importa.
Como quando erguemos
as mãos acima da cabeça
e avançamos para a luz.
Virá talvez o dia em que fraqueje.
Quem sabe, podemos fazer isso juntos.
Assim ninguém sai a perder.
(poema de Vítor Nogueira, in "Bagagem de Mão", &etc)
03/10/08
O ESTERCO DO MUNDO
Tenho amigos que rezam a Simone Weil
Há muitos anos reparo em Flannery O'Connor
Rezar deve ser como essas coisas
que dizemos a alguém que dorme
temos e não temos esperança alguma
só a beleza pode descer para salvar-nos
quando as barreiras levantadas
permitirem
às imagens, aos ruídos, aos espúrios sedimentos
integrar o magnífico
cortejo sobre os escombros
Os orantes são mendigos da última hora
remexem profundamente através do vazio
até que neles
o vazio deflagre
São Paulo explica-o na Primeira Carta aos Coríntios,
«até agora somos o esterco do mundo»,
citação que Flannery trazia à cabeceira
José Tolentino Mendonça
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Há muitos anos reparo em Flannery O'Connor
Rezar deve ser como essas coisas
que dizemos a alguém que dorme
temos e não temos esperança alguma
só a beleza pode descer para salvar-nos
quando as barreiras levantadas
permitirem
às imagens, aos ruídos, aos espúrios sedimentos
integrar o magnífico
cortejo sobre os escombros
Os orantes são mendigos da última hora
remexem profundamente através do vazio
até que neles
o vazio deflagre
São Paulo explica-o na Primeira Carta aos Coríntios,
«até agora somos o esterco do mundo»,
citação que Flannery trazia à cabeceira
José Tolentino Mendonça
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
02/10/08
A POESIA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
A tua mão
Reconheço a tua mão nesse abandono
visível não sei se pela escuridão
ou pela luz
quase sinto a natureza da tua vida
uma linha de fogo em enormes proporções
nesta mão
elegante, íntima, delicada
os dedos em inclinação muito leve
nem chega a ser um gesto
tanto se parece a uma despedida
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
Reconheço a tua mão nesse abandono
visível não sei se pela escuridão
ou pela luz
quase sinto a natureza da tua vida
uma linha de fogo em enormes proporções
nesta mão
elegante, íntima, delicada
os dedos em inclinação muito leve
nem chega a ser um gesto
tanto se parece a uma despedida
(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)
01/10/08
ALDINA DUARTE NAS "QUINTAS DE LEITURA"
É a terceira presença da fadista Aldina Duarte nas "Quintas de Leitura".
Aldina actuará, durante trinta minutos, na segunda parte da sessão "A noite abre meus olhos", dedicada à poesia de José Tolentino Mendonça.
A fadista, acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Carlos Manuel Proença (viola de fado), cantará alguns temas do seu novo disco "Mulheres ao espelho".
No dia 23 de Outubro todos os caminhos vão dar ao TCA.
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