10/09/09

MONÓLOGO

Romeu, o teu nome é um pacto e um relógio.
Entrego-te o meu nome e permaneço imune
ao mundo, à mentira e à passagem dos anos.

Romeu adolescente, perdido e camuflado
nas minhas ilusões. Lírico Romeu, que volto
a baptizar, agora com sangue em vez de água.

Coincidimos à frente e atrás de uma pistola
carregada. Romeu, o teu nome chama-me
pela voz com que a morte chama o amor.

Somos derrotados por um outono defeituoso,
como por um poema errado ou pelo mar. Ali,
pouco longe, um túmulo precisa do nosso calor.

(José Luís Peixoto, in "Gavetas de Papéis"/ Edições Quasi)

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