(fotografia de Augusto Brázio)
LIMPAR O PÓ
Como se ontem e os dias antes de ontem
se tivessem desfeito sobre as prateleiras,
como se pudéssemos escrever palavras
nas suas cinzas com a ponta do dedo,
como se bastasse soprar para vermos
as suas imagens de novo, numa nuvem.
LAVAR A LOIÇA
E destruir todas as provas de uma noite:
dois copos, dois corpos, garfos espetados
nas costas, facas como palavras repetidas.
E acreditar que o mundo recomeça na água.
A circunferência certa dos pratos, a cor
absoluta do branco. E esquecer outra vez.
(JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in "Gavetas de Papéis"/ Edições Quasi)
Como se ontem e os dias antes de ontem
se tivessem desfeito sobre as prateleiras,
como se pudéssemos escrever palavras
nas suas cinzas com a ponta do dedo,
como se bastasse soprar para vermos
as suas imagens de novo, numa nuvem.
LAVAR A LOIÇA
E destruir todas as provas de uma noite:
dois copos, dois corpos, garfos espetados
nas costas, facas como palavras repetidas.
E acreditar que o mundo recomeça na água.
A circunferência certa dos pratos, a cor
absoluta do branco. E esquecer outra vez.
(JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in "Gavetas de Papéis"/ Edições Quasi)
1 comentário:
E, hoje, muito especialmente hoje, soprar velinhas!
;)
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