14/09/09

AS CIDADES DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO

FOTOGRAFIA DE HELSÍNQUIA

O tempo diz-me que Helsínquia é um sonho
que nunca conseguirei concretizar.
Helsínquia é um fósforo a arder-me na ponta dos dedos.
Porque não sabia, desperdicei Helsínquia,
disse-lhe frases sem nexo e disfarcei-me de incêndio.
Há noites em que vejo a imagem desfocada de Helsínquia.
Comandado por ela, atravesso avenidas geladas
e queimo todos os objectos em que toco.


FOTOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO

Não esperes por mim, Rio de Janeiro. Tu nunca exististe
e eu nunca existi enquanto escutávamos relatos de futebol
nas nossas próprias vozes. Contigo, ficaram suspensas
todas as avaliações que fizemos da vida, todas as decisões.
Contigo, é a fome ou a sede. As tuas mãos seguram-me
os braços, Rio de Janeiro, porque querem ter a certeza
de que estou aqui. As tuas mãos deveriam saber mais,
Rio de Janeiro. Eu sou o fantasma único da tua luz.
Eu sou o invisível invisível. E é desde esse lugar nenhum
que te peço: não esperes por mim, Rio de Janeiro,
não esperes por mim.


FOTOGRAFIA DE BUDAPESTE


Os monumentos de Budapeste e as suas ruas
são o mal que fiz a uma rapariga de olhos grandes.
Às vezes, lembro-me de Budapeste a propósito de
pormenores: ganchos de cabelo, caretas ao espelho.
Quando eu e Budapeste passeávamos de mão dada,
havia uma espécie de justiça na copa das árvores.
Nesse tempo, não existia memória, éramos apenas
as nossas pegadas na neve. Budapeste não tem solução.
Passarão décadas e morreremos cheios de segredos.

(JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in "Gaveta de Papéis"/Edições Quasi)

3 comentários:

Mário Costa Neto disse...

O homem só diz vulgaridades e os seus versos são confrangedores, pálidos e sem vida. Não sabe como escrever porque nada tem para dizer. Mal estaria a poesia se fossem Vcs a destrinçar o bom do mau. Rodeiem-se de gente capaz e intelectualmente honesta. Só teriam a ganhar, em primeiro lugar prestígio merecido, que é uma garantia sólida de futuro, com o qual poderiam ter qualidade. Não sou poeta. Sou só leitor de poesia. Sei que isto não é publicado, o que é prova da minha boa intenção ao exercer esta crítica.

João Gesta disse...

Caro Senhor,

Registei o seu ponto de vista. Discordo dele, o que não tem qualquer importância. Nem para si, nem para mim.

Enganou-se, como vê, ao dizer que não lhe publicaríamos o comentário. Saiba que as "Quintas de Leitura" são, antes de tudo, um espaço de Liberdade. Liberdade livre, liberdade cor de Homem.

Não tenciono alimentar consigo qualquer polémica sobre a qualidade da escrita dos meus convidados. E são já dezenas e dezenas de escritores que, ao longo de 8 anos, passaram por este ciclo. Serão, porventura, no seu discernido e elevado ponto de vista, todos escritores menores?

Lembro-lhe apenas que José Luís Peixoto, prémio Saramago em 2001, é um dos escritores portugueses mais publicado no estrangeiro - Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, Itália, Turquia, Holanda, Finlândia, República Checa, Croácia, Bielo-Rússia e Brasil, estando em preparação edições na Hungria e Japão.

Faço-lhe notar ainda que os poemas das cidades, que tanto o arreliam, fazem parte do livro “Gaveta de Papéis” que, pasme-se, venceu o Prémio Daniel Faria 2008 (Poesia). O júri: Francisco José Viegas, Jorge Reis-Sá, Vera Vouga, entre outros.

Estamos, portanto, todos enganados quanto à qualidade dos livros de Peixoto. Somos todos, portanto, intelectualmente desonestos e ignorantes...

Um convite:

Se não gosta de Peixoto, venha à sessão das "Quintas" de Outubro. Mais 4 poetas convidados: A. Pedro Ribeiro, Daniel Jonas, João Rios e Nuno Moura?

Gosta destes, ou são também poetas menores e o programador que os convidou um refinado ignorante?

Penso que o meu ponto de vista, tal como o seu, são claros. A polémica, asseguro-lhe, ficará por aqui.

saudações poéticas / João Gesta
(Programador do ciclo "Quintas de Leitura")

Algodão Doce disse...

Sr. Mário Costa , pelo seu comentário depreendem-se duas coisas,primeira, tem um conceito muito próprio e provávelmente muito obscuro do que são "bons poetas, gente capaz e intelectualmente honesta". Ainda bem que os apreciadores de poesia estão longe da sua opinião!!A segunda é que não conhece o trabalho excepcional feito pelas Quintas de Leitura e pelo Teatro do Campo Alegre, na divulgação de novos e também conceituados talentos da poesia , e já agora se quiser , também da musica e da imagem. Obrigada a toda a equipa das Quintas de Leitura /TCA pelo trabalho de divulgação da poesia, poesia como a de José Luis Peixoto que nos leva a palavra em português , e sobretudo a poesia, a varios cantos do mundo.
Mas claro, Sr.Mário Costa que a sua opinião é muito pertinente e válida sobretudo porque é consistente!!!