ALDEIA DO CADAFAZ
de ano para ano o primo Albertino tem menos dentes
e neste Agosto não haverá baile nem matraquilhos
sentei-me no coreto da Junta olhei as casas da aldeia
enquanto que atrás de mim o Ivo e os outros miúdos
alheios e ainda bem a contemplações menores
me atiram sábias merecidas pedras que só por
azar e algum desprazer me não acertam
X-X
ALDEIA DE CASTELO RODRIGO
queria recuperar o leão gravado por cima da porta
onde ninguém via mais que uma imperfeição na pedra
vender a casa estava fora de questão o amor pode ruir
mais depressa que algumas honradas edificações
para mim bastaria uma cadeira uma prancha apoiada
em dois cavaletes e tempo para anotar a aproximação dos
insectos a custosa mas precisa promoção do Inverno
X-X
ALDEIA DE CASTELO MENDO
flores de papel azuis cor-de-rosa esfiapadas contra a pedra
um vestígio de festa a que se chega sempre tarde o largo
do pelourinho austero a ponta acesa de um cigarro na ladeira
viemos dar a um belver ervado onde lembro um túmulo e
talvez uma capela num conjunto de gaélica aparência
X-X
ALDEIA DE DRAVE
excluamos a praga sazonal de escuteiros o mau vinho
maggaio comprado num lugar vizinho e temos o dom
da noite sentados na erva seca no alqueive dos socalcos
num silêncio medieval duro ingente que nos cai no vale
dos olhos abertos à progressiva combustão dos astros
(poemas de Miguel-Manso)
Fotografia de Miguel-Manso por Filipe Bonito.
Sem comentários:
Enviar um comentário