29/06/09

AS ALDEIAS DE MIGUEL-MANSO


ALDEIA DO CADAFAZ

de ano para ano o primo Albertino tem menos dentes
e neste Agosto não haverá baile nem matraquilhos
sentei-me no coreto da Junta olhei as casas da aldeia
enquanto que atrás de mim o Ivo e os outros miúdos
alheios e ainda bem a contemplações menores
me atiram sábias merecidas pedras que só por
azar e algum desprazer me não acertam

X-X

ALDEIA DE CASTELO RODRIGO

queria recuperar o leão gravado por cima da porta
onde ninguém via mais que uma imperfeição na pedra
vender a casa estava fora de questão o amor pode ruir
mais depressa que algumas honradas edificações
para mim bastaria uma cadeira uma prancha apoiada
em dois cavaletes e tempo para anotar a aproximação dos
insectos a custosa mas precisa promoção do Inverno

X-X

ALDEIA DE CASTELO MENDO

flores de papel azuis cor-de-rosa esfiapadas contra a pedra
um vestígio de festa a que se chega sempre tarde o largo
do pelourinho austero a ponta acesa de um cigarro na ladeira
viemos dar a um belver ervado onde lembro um túmulo e
talvez uma capela num conjunto de gaélica aparência

X-X

ALDEIA DE DRAVE

excluamos a praga sazonal de escuteiros o mau vinho
maggaio comprado num lugar vizinho e temos o dom
da noite sentados na erva seca no alqueive dos socalcos
num silêncio medieval duro ingente que nos cai no vale
dos olhos abertos à progressiva combustão dos astros

(poemas de Miguel-Manso)

Fotografia de Miguel-Manso por Filipe Bonito.

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