26/06/09

AS ALDEIAS DE MIGUEL-MANSO

ALDEIA REFLECTIDA

são joão da ribeira
- queria pôr aqui este nome -
mãos que trazem a fruta ao fim da tarde
clero adro cal entusiasmo distrital

escolhe tu o país a mesa de café
contra este absurdo cósmico
eu pago um copo

lembrar-me-ei hoje de um verso pequeno?

x - x

ALDEIA DA AZINHAGA

adro campanário desolação librina
no paul da manhã dormem gatos líquen
nenhum dos velhos se alevanta da entrada da
taberna em direcção à sua Lanzarote

x - x

ALDEIA DA PALHOTA

o nomadismo é uma sucessão de sedentarismos
até se chegar ao cão voltando à margem à mulher
que dorme negra na luz de uma árvore de abismos
vê o que vai sobrando das artes dos barcos da noite
"Avieiros" 1942 e o mais grave é que nem com a escrita
ou o cinema se pode voltar ao que já está perdido

x - x

ALDEIA DO PATACÃO

podia falar dos tomatais do areal e do rio largos do renque
decrépito das casas em palafitas mas o que me ocorre mostrar
é a fotografia amarelada de dois amantes junto à morte


(Poemas de Miguel-Manso)

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