SINA HEREDITÁRIA
As mães lêem nas mãos dos antepassados
o destino que nunca tiveram. Sentam-se
às portas das casas onde enlouquecem
à vista das filhas; e as filhas seguram-lhes
as mãos para que não atirem aos cães
o destino que nelas está escrito.
Mas se as mães empurram as filhas
para dentro de casa, e ficam a falar
umas com as outras, a loucura toma
conta das suas mãos, e sobe até aos
braços que agarram as filhas que
fugiram para dentro da casa, gritando.
E as mães loucas gritam por cima
do grito das filhas, enquanto a tarde
chega a todas as casas, libertando as
mães e as filhas do destino que os cães
apanharam do chão, e arrastam pelas ruas
para que todos o leiam nas mãos caídas.
Nuno Júdice
(POEMA DO DIA DA MÃE)
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