29/05/09
MAIS UM POEMA DE AMOR ESCOLHIDO POR INÊS PEDROSA
Ficávamos no quarto até anoitecer, ao conseguirmos
situar num mesmo poema o coração e a pele quase podíamos
erguer entre eles uma parede e abrir
depois caminho à água.
Quem pelo seu sorriso então se aventurasse achar-se-ia
de súbito em profundas minas, a memória
das suas mais longuínquas galerias
extrai aquilo de que é feito o coração.
Ficávamos no quarto, onde por vezes
o mar vinha irromper. É sem dúvida em dias de maior
paixão que pelo coração se chega à pele.
Não há então entre eles nenhum desnível.
Luís Miguel Nava
Este poema será lido por Isaque Ferreira.
28/05/09
Samuel Úria falado na Galiza


POEMAS DE AMOR ESCOLHIDOS POR INÊS PEDROSA
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
Natália Correia
Este poema será dito por Rute Pimenta.
27/05/09
DIA 18 DE JUNHO. POEMAS DE AMOR ESCOLHIDOS POR INÊS PEDROSA
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
Este poema será lido por Isaque Ferreira.
26/05/09
FAZES-ME FALTA.

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...
Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...
Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
António Botto (1900-1959)
Este poema será lido por Catarina Nunes de Almeida.
(fotografia retirada da revista brasileira online Bravo).
25/05/09
O Amor segundo Inês Pedrosa e Aldina Duarte

"Fazes-me falta" é o título da próxima sessão do ciclo poético "Quintas de Leitura", que se realiza a 18 de Junho, às 22h00, no Auditório do TCA, com a participação do colectivo poético Caixa Geral de Despojos.
Esta sessão é marcada pela presença de duas mulheres insubmissas e brilhantes da cultura portuguesa: a escritora Inês Pedrosa e a fadista Aldina Duarte.
Inês Pedrosa escolheu e apresentará 25 belos e surpreendentes Poemas de Amor, todos de autores portugueses: Mário Cesariny, António Botto, Álvaro de Campos, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Ana Hatherly, Natália Correia, Alexandre O'Neill, Fernando Assis Pacheco, Pedro Támen, Al Berto, Maria Teresa Horta, Nuno Júdice, Luís Miguel Nava, Luiza Neto Jorge, Manuel António Pina, Jorge Sousa Braga, Maria do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral, José Tolentino Mendonça, Herberto Helder e Inês Pedrosa.
Os poemas foram escolhidos para as vozes de Catarina Nunes de Almeida, Rute Pimenta e de três elementos do colectivo poético Caixa Geral de Despojos (Filipa Leal, Isaque Ferreira e Pedro Lamares).
A imagem da sessão, produzida em tempo real, é da responsabilidade do ilustrador António Jorge Gonçalves.
O momento de performance é assegurado por Victor Hugo Pontes e Elisabete Magalhães. Apresentarão a peça "Dupla em Fotomontagem".
O espectáculo contará ainda com o regresso aos palcos das “Quintas de Leitura” do jovem, talentoso e laureado pianista Raúl Peixoto da Costa, que interpretará temas de Chopin e Liszt.
Aldina Duarte dará um concerto com cerca de 45 minutos, a fechar a sessão, onde cantará temas do seu último disco " Mulheres ao Espelho".
Refira-se, por fim, que o espectáculo é assinado pela dupla João Gesta e Mafalda Capela, também elementos do colectivo Caixa Geral de Despojos, e igualmente responsáveis por espectáculos de sucesso como "Bife Picado", “Irene! Irene! Sirva o Leite-creme!”, “Fio Mental” e “Nunca mais é sável”, todos apresentados no âmbito das “Quintas de Leitura”.
Adivinha-se uma noite intensa, arrebatadora, cheia de tensão poética, construída à medida do seu coração.
Bilhetes a pensar na crise: 9,00 Euros e 6,00 Euros (c/ desconto).
MORRER DE AMOR
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
(MARIA TERESA HORTA)
22/05/09
AINDA MIGUEL-MANSO, O POETA DO DIA 9 DE JULHO
gosto quando pões a quinta porque me tocas na perna com o nó dos dedos
(Miguel-Manso, in "Contra a Manhã Burra"/ Mariposa Azual)
21/05/09
Tochas para sentir


Pedro Tochas durante uma pausa no estágio de preparação para a viagem espacial das próximas noites, nas Quintas de Leitura do TCA, é chamado à mesa de Ricardo Couto, talk-show da Porto Canal, para um tempo de balanço e mímica. A não perder , já que os bilhetes para os 3 serões interactivos com o comediante estão esgotados há mais de duas semanas. "Vai ser uma experiência. Mais do que para ver serão noites para sentir"- Pedro Tochas.
MIGUEL-MANSO NO TCA A 9 DE JULHO
o vinho é branco a tarde cai o dia avança no vento
na boca acorda o último cigarro o poema segue o risco
a claríssima insuficiência
é este o incêndio da tarde o fim do almoço
a violência dos pássaros as crianças dormem a sesta
reclusas na sombra azul dos quartos
mãos sem sentido
arroz na folha de videira muro caiado de branco
e roseiras
gastronomias inexplicáveis contêm a vida e os pátios
aquela noite grega que não soubemos redigir
vespas bebendo da boca das torneiras
escrevo o poema que não lerás nunca
sobre a toalha de plástico da mesa suja
de azeite
a mão esquecida na vírgula acesa do cigarro
a minha solidão vincada a cotovelos no padrão da toalha
as crianças dormindo na
nitidez esquecida da telefonia
(Miguel-Manso, in "Contra a Manhã Burra", reeditado por Mariposa Azual)
19/05/09
Pedro Tochas em edição especial
FAZES-ME FALTA. POEMAS DE AMOR ESCOLHIDOS POR INÊS PEDROSA.
Mário Cesariny
António Botto
Álvaro de Campos
Eugénio de Andrade
Sophia de Mello Breyner Andresen
Ana Hatherly
Natália Correia
Alexandre O'Neill
Fernando Assis Pacheco
Pedro Támen
Al Berto
Maria Teresa Horta
Nuno Júdice
Luís Miguel Nava
Luiza Neto Jorge
Manuel António Pina
Jorge Sousa Braga
Maria do Rosário Pedreira
Fernando Pinto do Amaral
José Tolentino Mendonça
Herberto Helder
Inês Pedrosa
Refira-se, ainda, que os poemas serão lidos por Catarina Nunes de Almeida, Filipa Leal, Rute Pimenta, Isaque Ferreira e Pedro Lamares.
18/05/09
15/05/09
A RUA DA ESTRADA. 2ª CHAMADA.
SUIL
Mal entrava em casa abria
uma garrafa de leite
frio e estendia-se nua
no sofá. De vez em quando
deixava que algumas gotas
lhe escorressem dos lábios
e lhe fossem perlar os pêlos
do púbis negros como azeviche
(poema de Jorge Sousa Braga)
14/05/09
A RUA DA ESTRADA. ESTA NOITE.
Abro-te a porta entorno o alguidar
cais de joelhos começas a rezar
são 5 horas horas de acordar
e mal te certas levas a dobrar
falas da noite senhoras e bilhar
andas na tosse vou-te cantar
fecho-te a porta ponho-te a andar
caio de joelhos quem vou eu amar?
(poema de Nuno Moura)
13/05/09
A RUA DA ESTRADA. DIAS 14 e 15 DE MAIO.

ÁLVARO DOMINGUES
O COPO (NUNO MOURA e PAULO CONDESSA)
LUCÍA ALDAO
SAMUEL ÚRIA
PAT
CINDY
Serão talvez precisos vários espectáculos destes para que um dia deixe de haver pessoas razoáveis.
As boas e as más notícias: LOTAÇÃO ESGOTADA.
Maria do Rosário Pedreira - inédito
um raio de sol interrompendo o mundo – e
levam os meninos mortos ao colo no fio dos
caminhos, confundindo sempre a lã do xaile
com o calor do sangue que lhes ensopa as mãos.
Seguem sem poder acreditar – ou então acreditam
que não seriam capazes de amar tanto uma coisa
parada no tempo, e por isso vão, imperturbáveis,
ouvindo bater dentro do próprio peito os corações
vermelhos pequeníssimos. Mais adiante, deter-se-ão
para descobrir um seio redondo e cheio à minúscula
boca prometido – não vá ela abrir-se de repente e,
milagrosamente, começar a chorar.
Maria do Rosário Pedreira
Outubro de 2008
Inédito
(Poema para Dia da Mãe - parceria Quintas de Leitura / Antena 1)
Jorge Sousa Braga
Estava sentado numa sala anexa ao bloco operatório
e uma enfermeira passou com o teu útero num saco de plástico transparente
Com o teu útero com a minha primeira casa e a de meus irmãos
ainda escorrendo sangue
Uma pequena construção toda em pedra
com divisões de tijolo e cal hidráulica
e janelas abrindo para o vale
Com o teu útero
Com a memória do pão depois de levedado e da tua saia comprida cheia de farinha
Com a memória de uma gema de ovo
Com o teu útero
Com a memória de uns sapatos demasiado apertados
Com a memória do giz e do ferro a carvão e dos alinhavos
Na minha alma antes de ser posta à prova
Com o teu útero
Com a memória de uma véspera de Natal das rabanadas e da aletria
E das águas que de súbito inundaram o soalho da cozinha
Com a memória agitada dessas águas
Com o teu útero
Com a memória de uma explosão de mimosas
Com a memória do cheiro a flor de laranjeira e a neroli
Com o teu útero
Que o anatomo-patologista dentro em pouco se encarregaria de retalhar
Com a lâmina do bisturi
Jorge Sousa Braga
(Poema para Dia da Mãe - parceria Antena 1/Quintas de Leitura)
12/05/09
José Luís Peixoto
mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo.
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia mais bonita que tenho. gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras. sim, mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não as leste. somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto ("A Casa, a Escuridão")
Texto para Dia da Mãe - Parceria Quintas de Leitura / Antena 1
11/05/09
Aldina Duarte
Mãe, pai e véu
Pão, mel e lar
Lua, ovo e céu
Sol, rio e mar
Teu, ser e ter
Ele, noz e voz
Meu, ver e ler
Ela ali por nós.
(Inédito - Dia da Mãe - parceria Quintas de Leitura / Antena 1)
Me and Bobby McGee - Lucía Aldao ao vivo
Macedonia Pequena por Lucía Aldao
esta semana nas Quintas de Leitura,
14 e 15 de Maio de 2009 com o seguinte programa:
-me and bobby mcgee de Janis Joplin
-fade in to you de Mazzy Star
-heroin de Lou Reed
-some say i got devil de Melanie Safka
-te echaré de menos de Los Piratas
-você passa, eu acho graça de Cássia Eller
Samuel Úria - Não arrastes o meu caixão
Nas Quintas de Leitura a 14 e 15 de Maio de 2009, apresentando: Nova vaga de velhas vagas.
UM SERÃO INTERACTIVO com Pedro Tochas
Quintas de Leitura com esforço físico
Mistura de espectáculo com workshop em exclusivo para as Quintas de Leitura.
As Quintas de Leitura do TCA apresentam, nas noites de 21, 22 e 23 de Maio o espectáculo “Um serão interactivo com Pedro Tochas”, sempre às 22h00.
Uma performance interactiva em formato de workshop que tem como objectivo experimentar alguns conceitos novos que o comediante utilizará em apresentações futuras. Um espectáculo que convida o público a participar em jogos teatrais para explorar esses mesmos conceitos.
“A não perder para quem quer sair da sua zona de conforto e experimentar coisas novas!”, esclarece Tochas.
Sobre estas sessões de Quintas de Leitura é necessário ainda acrescentar:
ATENÇÃO!As pessoas devem trazer roupa confortável (fato de treino recomendável) e estarem fisicamente aptas, uma vez que alguns dos jogos vão exigir actividade física.Não se pretendem espectadores com atitude meramente passiva.
Todos serão chamados a participar!
Fotografia de Raquel Viegas
08/05/09
ANA LUÍSA AMARAL
Vou partir de avião
e o medo das alturas misturado comigo
faz-me tomar calmantes
e ter sonhos confusos
Se eu morrer
quero que a minha filha não se esqueça de mim
que alguém lhe cante mesmo com voz desafinada
e que lhe ofereçam fantasia
mais que um horário certo
ou uma cama bem feita
Dêem-lhe amor e ver
dentro das coisas
sonhar com sóis azuis e céus brilhantes
em vez de lhe ensinarem contas de somar
e a descascar batatas
Preparem a minha filha
para a vida
se eu morrer de avião
e ficar despegada do meu corpo
e for átomo livre lá no céu
Que se lembre de mim
a minha filha
e mais tarde que diga à sua filha
que eu voei lá no céu
e fui contentamento deslumbrado
ao ver na sua casa as contas de somar erradas
e as batatas no saco esquecidas
e íntegras
Ana Luísa Amaral, Minha Senhora de Quê, Fora do Texto, Coimbra, 1990, reed. Lisboa, Quetzal, 1999
(Poema para o Dia da Mãe - Quintas de Leitura / Antena 1)
João Gesta qualificou esta dupla sessão como "um shot performático, em duas partes, englobando convidados de várias áreas de expressão: poetas, diseurs, músicos, fotógrafa, bailarina e mesmo um geógrafo".
"É uma caldeirada explosiva, de contornos imprevisíveis, frisou.
O programador promete "100 minutos de espectáculo intenso, frenético, desconcertante e muito variado".
"Trabalharemos sem rede, à mercê dos impulsos dos nossos convidados. Experimentaremos o conceito de 'recital portátil', ou seja, uma sessão com menos requisitos técnicos e de fácil montagem, capaz de se 'instalar' eficazmente em qualquer outro palco do país, 24 horas após a sua apresentação no TCA", acrescentou.
Neste espectáculo João Gesta conta com a fotógrafa PAT, artista destacada para introduzir "pequenas revoluções" no decorrer do espectáculo.
As performances anunciadas incluem o geógrafo Álvaro Domingues que apresentará, "com ciência e humor", a conferência-esquisita "A Rua da Estrada", que dá nome à sessão.
Estará também presente a cantora galega Lucía Aldao, (um regresso às "Quintas") para apresentar "Macedonia pequena", um concerto com temas de Janis Joplin, Melanie Safka, Lou Reed, Mazzy Star e Los Piratas.
O programa prevê a estreia nas "Quintas" do músico Samuel Úria (da editora Flor Caveira), que "tocará temas de sua autoria, dos Beatles e, talvez, a 9ª Sinfonia de Paco Bandeira", numa apresentação descrita como a verdadeira "Nova vaga de velhas vogas".
O colectivo "O Copo", constituído pelos poetas Nuno Moura e Paulo Condessa, apresentam "Os Garfunkels", descrito como "pura performance poética, supra-pseudo-musical", que promete "espasmos musicais capazes de honrar a nação".
"Finalmente, da Roménia chega-nos a bailarina Cindy, para dar mais sensualidade e magia ao acto", salienta João Gesta.
PF.
Lusa/Fim
07/05/09
NUNO JÚDICE - INÉDITO
As mães lêem nas mãos dos antepassados
o destino que nunca tiveram. Sentam-se
às portas das casas onde enlouquecem
à vista das filhas; e as filhas seguram-lhes
as mãos para que não atirem aos cães
o destino que nelas está escrito.
Mas se as mães empurram as filhas
para dentro de casa, e ficam a falar
umas com as outras, a loucura toma
conta das suas mãos, e sobe até aos
braços que agarram as filhas que
fugiram para dentro da casa, gritando.
E as mães loucas gritam por cima
do grito das filhas, enquanto a tarde
chega a todas as casas, libertando as
mães e as filhas do destino que os cães
apanharam do chão, e arrastam pelas ruas
para que todos o leiam nas mãos caídas.
Nuno Júdice
(POEMA DO DIA DA MÃE)
MIGUEL-MANSO
Publicamos hoje mais um poema de sua autoria:
CADERNO DO PORTO VELHO
escrevo o espaço que vai das
tuas mãos ao renque das alfazemas
sombra aprendida em aromáticos versos
desconheço ainda esta cidade
depois de tantos anos
mas aprecio
pela tarde o lento rir das áleas
avenidas de timbre meridional
casas onde ainda se pode descascar a fruta
atirar a casca para um alguidar partido
e onde na trégua do calor maior as crianças costeiras
tomam o alcatrão das ruas a areia das praias
rompem este silêncio de vagar portuário
de palavras como ruína que envolvem
o sentido do que escrevo
as tuas mãos ou o espaço que vai das
tuas mãos ao renque das alfazemas
(Miguel-Manso, in "Quando escreve descalça-se"/Trama Livraria)
06/05/09
Especial Dia da Mãe - Quintas de Leitura / Antena 1

OqueStrada "Oxalá Te Veja" (apoio Antena 3)
O 1º álbum dos OqueStrada "TascaBeat o sonho português" já está está por aí.
BoaStradas a todos vós!!!
Esta banda estreou-se no ciclo Quintas de Leitura, em Outubro de 2006, numa sessão dedicada a Nuno Júdice. Regressou aos palcos do TCA em Dezembro do ano passado para a grande festa de lançamento da antologia DIGA 33 - os retratos e os textos dos poetas das Quintas de Leitura. Para quem não conhece ou para quem, como nós, é fã dos OqueStrada há muito.
05/05/09
ANTÓNIO MARIA LISBOA:
ANTÓNIO MARIA LISBOA:
04/05/09
Quatro performances e pequenas revoluções

A próxima aventura das "Quintas de Leitura" intitula-se "A Rua da Estrada" e realiza-se nos dias 14 e 15 de Maio, sempre às 22h00, no Sala-Estúdio do TCA, a sala mais intimista deste Teatro.
Trata-se de um shot performático, em duas partes, englobando convidados de várias áreas de expressão: poetas, diseurs, músicos, uma fotógrafa, uma bailarina e mesmo um geógrafo. Uma caldeirada explosiva, de contornos imprevisíveis.
João Gesta, programador do ciclo “Quintas de Leitura” e criador deste espectáculo, explica:
“Prometemos 100 minutos de espectáculo intenso, frenético, desconcertante e muito variado. Trabalharemos sem rede, à mercê dos impulsos dos nossos convidados. Experimentaremos o conceito de ‘recital portátil’, ou seja, uma sessão com menos requisitos técnicos e de fácil montagem, capaz de se ‘instalar’ eficazmente em qualquer outro palco do país, 24 horas após a sua apresentação no TCA”.
O espectáculo foi concebido pelo programador João Gesta, que conta com a acção e cumplicidade directas da fotógrafa PAT, artista destacada para introduzir "pequenas revoluções" no decorrer do espectáculo.
São várias as performances que se anunciam:
- O geógrafo Álvaro Domingues apresentará com ciência e humor a conferência-esquisita "A Rua da Estrada", que dá nome à sessão.
- Lucía Aldao, cantora galega, volta às "Quintas" para apresentar "Macedonia pequena", temas de Janis Joplin, Melanie Safka, Lou Reed, Mazzy Star e Los Piratas.
- Estreia nas "Quintas" de Samuel Úria, destacado músico da editora Flor Caveira. Tocará músicas de sua autoria, dos Beatles e, talvez, a "5ª Sinfonia" de Paco Bandeira. A verdadeira "Nova vaga de velhas vogas".
- O colectivo "O Copo", constituído pelos poetas Nuno Moura e Paulo Condessa, apresentam "Os Garfunkels", pura performance poética, supra-pseudo-musical. Prometem-se espasmos musicais capazes de honrar a nação.
- Da Roménia chega-nos a bailarina Cindy, para dar mais sensualidade e magia ao acto.
Um espectáculo para maiores de 18 anos. Nunca se sabe...
"Serão talvez precisas várias sessões destas para que um dia deixe de haver pessoas razoáveis", remata João Gesta, confiante no êxito deste modelo.
JOÃO ALMEIDA
Fiquem a conhecer o poema
A QUANTAS ANDO
as minhas botas
cães de fila, um mastim branco
e um dono insano
neste ofício
é preciso perder
Highgate, vinte e sete de Maio
ouvem-se os sinais objectivos de um corvo
as ervas também e os arbustos
alimentados a nitrato
à entrada pagamos qualquer coisa
em moedas pequenas
moedas em todo o caso
a Preciosa Maria said to the lady
that Karl Marx devia estar às voltas na tumba
nesse mesmo dia ao que dizes
os new order tocaram atmosphere no super bock
super rock e parece que houve choro e spleen
encostei-me não me lembro onde
e fiquei a olhar a cabeça de marx
o cemiterio é amigo e explica muitas coisas
(João Almeida, in "Glória e Eternidade"/Teatro de Vila Real)