IN
MEMORIAM
ao Bernardo Sassetti
Há
um fotógrafo triste que bóia no oceano. Nas mãos
já
não tem a máquina que deixou cair pelo caminho,
e
nos olhos falta-lhe essa força que lhe permitia fixar
o
objectivo, definir o quadro, inventar o ângulo
certo
para atingir o alvo. Agora, flutua como o barco
que
perdeu a âncora, ou como folha que se cansou
de
ir com o vento, e se deitou a descansar num
leito
de água. Alguém que o tivesse visto teria
querido
chamar por ele, puxá-lo para a margem,
e
convencê-lo a olhar para a paisagem, sem outro
objectivo
do que o simples olhar para a paisagem;
mas
ele não ouve ninguém, e deixa-se ir até onde
a
corrente o levar, no mar que se tornou o seu berço.
Nuno
Júdice
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