Foste tu desintegrar o espelho da tua própria carne.
Saberes que te conjuga uma estrela de mão
esquerda, essa inesperada
sombra
que se infiltra no teu suor, trémula,
como os recém-nascidos,
e rutila.
Foste tu atrair sobre ti
a sorte das vagas desirmanadas, o esqueleto
de um incêndio, os amuletos que
os gatos transportam no
escuro.
Foste tu contornar os venenos,
com o verão à espera de te ver cair.
Foste tu a esperança de um copo, na cena
derradeira da minha boca, o espaço e a esquina
que me denuncia,
quando o segredo cai ao chão,
e a estrela corre da mão esquerda para o fulcro do peito.
x-x
No peito, a manivela ferrugenta
que faz abrir a respiração
começou a emperrar
e o corpo aprendeu rapidamente:
o suor como se a roupa
fosse um antídoto.
O belo cavalo branco de cascos
impretéritos avançou
então
pelas vértebras
mas não impediu que a imagem
fosse real.
Cordas de piano
por onde trepam os assassinos
e onde por vezes
se enforcam
antes de alcançarem a janela,
o repto impune dos que dormem:
vela-me.
x-x
O homem é um raio desabitado. E a terra dissipa-o.
(Poemas de VASCO GATO, in "Omertà"/Edições Quasi)
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