Este
é o poema de Maria do Rosário Pedreira que dá título à próxima sessão das
“Quintas”.
Será lido por Susana Menezes.
Vamos
ser velhos ao sol nos degraus
da
casa; abrir a porta empenada de
tantos
invernos e ver o frio soçobrar
no
carvão das ruas; espreitar a horta
que
o vizinho anda a tricotar e o vento
lhe
desmancha de pirraça; deixar a
chaleira
negra em redor do fogão para
um
chá que nunca sabemos quando
será
– porque a vida dos velhos é curta,
mas
imensa; dizer as mesmas coisas
muitas
vezes – por sermos velhos e por
serem
verdade. Eu não quero ser velha
sozinha,
mesmo ao sol, nem quero que
sejas
velho com mais ninguém. Vamos
ser
velhos juntos nos degraus da casa –
se
a chaleira apitar, sossega, vou lá eu; não
atravesses
a rua por uma sombra amiga,
trago-te
o chá e um chapéu quando voltar.
(in
“Poesia Reunida”/ Quetzal Editors)
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