POR UMA LUZ REAL
A rapariga debaixo da luz verde
da árvore
parecia usar a máscara disforme
dos pesadelos.
Era uma imagem nítida,
quase branca.
Fumava.
Olhava-me para dentro do medo
sem rosto
debruçada, lenta, circular.
Era noite.
Eu estava na rua à tua espera.
Na rua não, no carro.
Eu estava no carro de vidros abertos
de olhos abertos
debruçada.
Mas felizmente tu chegaste
com a tua luz real (tão real)
para me interromper o pesadelo.
x-x
QUARTO MINGUANTE
Os adolescentes da cidade
deitavam-se cada vez mais cedo.
Faltava-lhes o espaço para a náusea
desse lugar diminuto,
desse tédio
que só no quarto a sós
lhes denunciava a paixão.
Os adultos da cidade
deitavam-se cada vez mais tarde.
Não suportavam a náusea
desse lugar diminuto,
desse tédio
que no quarto só
lhes denunciava a solidão.
(2 poemas de Filipa Leal, in "A Cidade Líquida e Outras Texturas"/Deriva Editores)
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