Ode Cesariny
Para todos os que amam como a estrada começa.
queria de ti um país
um arco de sol para brincar nas manhãs
a roda das tuas mãos na cintura
engravidando de deslumbre
e a urdidura dos filhos
para além da alegria.
queria que entumecesses o tempo
dentro de maçãs relidas
em poemas sobre a mesa.
no teu jeito de apertares os lábios
e me fechares numa sílaba
queria de nós um país
juntando-se a outro.
compor o tratado dos nossos beijos
na morfologia das estrelas
que encimam esta solidão
faz-me querer de ti
se não um país o coração
da tua cidade
coisa tanta e pouca
alguma coisa só
um beijo talvez
que retenha a bruma
de avançar sobre Portugal
e me tome de vez
o destino por invisível.
(Ana Salomé, in "Odes"/Editora Canto Escuro)
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