a minha avó
um dia, não passou pela porta da
cozinha.
como se nada fosse,
deu a volta pelo corredor e
abriu a entrada de portadas duplas e
seguiu gorda embora
um dia, saltaram os botões à
bata que vestia, quando se sentou e
a barriga quis espaço para cima dos
joelhos
um dia, apareceu num carro
escuro e chamou por mim. não
quis que o meu pai me oferecesse
dinheiro, achava que era demasiado
para o que eu valia
um dia, soubemos que não nos avisava de
estar em portugal. eu achava que era
muito convencida, como se lhe viessem
flores do cu por privilégio real
um dia, agarrou no meu braço prendendo-me.
suava, estava calor e parecia poder
derreter. disse-me mentiras por maldade. odiava
a candura dos meus doze anos. olhei para ela
e pensei, és uma puta gorda, és gorda e és porca
(poema de valter hugo mãe / pornografia erudita / cosmorama edições)
Sem comentários:
Enviar um comentário