José Luís Peixoto vai estar de novo connosco (dia 24 de Setembro), numa sessão imperdível intitulada "LIVRE".
Retomamos hoje a publicação de alguns poemas da sua autoria.
CERTIDÃO DE NASCIMENTO
Portugal, encho a boca com esta palavra, mastigo-a.
Preencho impressos com os números de uma data
em que tinha 3 quilos e 700 gramas.
Portugal é o nome de pessoas que telefonam umas
às outras, que se ultrapassam na auto-estrada e
que se despedem com a mesma sílaba.
O dia em que nasci é a minha mãe com as pálpebras
desmaiadas sobre os olhos, a pensar em labirintos e
a tricotá-los no centro dos seus sonhos.
Portugal e o dia em que nasci misturam-se sem
perderem cor, são matérias complementares
na lamela de um microscópio.
Portugal e o dia em que nasci são irmãos gémeos,
vestidos de igual, que os parentes mais próximos
se entretêm a tentar distinguir.
O dia em que nasci é Portugal, um país completo,
mas Portugal é muito mais do que apenas um dia,
Portugal é o instante exacto em que nasci.
(José Luís Peixoto, in "Gaveta de Papéis"/Edições Quasi)
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