Morreu o Poeta Vasco Graça Moura, um Amigo das “Quintas de
Leitura”, ciclo por onde passou fulgentemente em 22 de Março de 2012,
assinando uma memorável sessão intitulada “A Furiosa Paixão Pelo Tangível”.
Hoje, prestamos homenagem ao Amigo, ao Poeta e ao Homem,
recordando um poema que ele próprio leu, com muito humor, na referida
sessão.
diana no banho
via diana
pelo buraco
da fechadura.
era jacuzzi?
banho de espuma?
estava nua,
brilhava flava,
tinha o cabelo
puxado acima,
belas maminhas
à tona de água,
olhos fechados
deliciada,
os pés nas bordas
dos azulejos.
e marulhava
de leve a água,
num chape-chape
de mansa vaga,
como se a lua
mais perfumada
ali pousasse
na porcelana
enevoada.
logo se deu
por servo dela,
para cantá-la,
ensaboada,
e se pudesse
dar-lhe umas quecas
vezes sem conta,
fora da água.
logo por dentro
os seus desejos
o devoraram
espreitador
desprevenido,
dos próprios cães
inda comido.
quanto a diana,
não deu por nada,
não o puniu,
não se vingou.
não precisava.
(Vasco Graça Moura)
1 comentário:
não deu por nada
(...)
não precisava
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