IN TEMPORAL
PRINCESA DE ÁFRICA
A Câmara Municipal de Paredes promoveu a exposição internacional Art on Chairs,
na qual se insere o projeto DUETS convidando 11 personalidades representativas da sociedade contemporânea e 11
designers a um encontro que fornece o mote para o
desenvolvimento de uma cadeira.
Na próxima sessão do ciclo Quintas de Leitura ("A Carne do Poema" - dia 26 de setembro) Valter
Hugo Mãe e Filipa Leal, estarão confortavelmente sentados nas cadeiras
concebidas, respectivamente, para Manoel de Oliveira (primeira imagem) e Mia
Couto (segunda imagem).
DUETS
Com o objetivo de
valorizar a realidade territorial e produtiva de Paredes,
caracterizada pelo uso intensivo da
madeira e seus derivados e por uma elevada qualidade de fabrico, o projeto
Duets convida 11 personalidades representativas da sociedade contemporânea e 11
designers a um encontro que fornece o mote para o
desenvolvimento de uma cadeira. O
resultado deste processo materializou-se em 11 objetos que traduzem o
património cultural e a experiência de vida, quer da
personalidade convidada, quer do
designer que a interpreta, em diálogo com as práticas
produtivas e de gestão das
diferentes empresas do território de Paredes. De cariz
exclusivamente humanitário, Duets
evoca o tema da exposição “An idea for the world on a chair” através de
11 formas diferentes de entender o Design e de interpretar as personalidades,
retratando-as de modo surpreendente. O resultado final é a prototipagem de 5
cadeiras para cada Dueto, sendo uma delas leiloada a favor do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados. O objetivo deste projeto, totalmente inovador e
único, é o de angariar o máximo de fundos para ajudar o UNHCR/ACNUR a prestar
assistência a milhares de refugiados em África que lutam cada dia para
sobreviver às terríveis crises que decorrem atualmente no
continente.
Personalidade: Manoel
de Oliveira
Área
Cinema
Designer Paolo
Deganello
Empresa Viriato Hotel
Concept
IN
TEMPORA L
O cineasta de 103 anos
pediu apenas “uma cadeira para pensar”. Depois de tudo ver e tudo ler
repetidamente, o designer italiano Paolo Deganello, confesso
admirador do realizador
português, criou a “Intemporal”, uma ergonómica cadeira em madeira com diferentes
inclinações e posições do apoio dos braços, realizada num
contraplacado flexível
de bétula, produzido na Finlândia, pronta a ceder sob o peso e movimento do corpo
graças a uma dobradiça de aço mola colocada no limite
posterior do assento. Resultado
de combinações improváveis de materiais e formas, um pouco como as
personagens e histórias dos seus filmes, a cadeira incorpora
linho,
sisal, palha, couro e
alumínio que recriam o universo cinematográfico de Manoel de Oliveira. O encosto de
cabeça, por exemplo, evoca uma rosa que Emma – personagem principal da obra
prima Vale Abraão – acaricia repetidamente, relembrando o ventre materno. A
complexa produção, tal a quantidade de desenhos e detalhes
técnicos, esteve a
cargo da Viriato Hotel Concept. Como resumiu Deganello, esta
não cadeira não é um
produto, mas uma exercitação de design: o desenho de um
utensílio experimental projetado
para um único utente de exceção.
Personalidade: Mia
Couto
Área
Literatura
Designer
Luigi
Baroli
Empresa
Zagas
Móveis
PRINCESA DE ÁFRICA
“Somos feitos assim de
espaçadas costelas, entremeadas de vãos para que o coração seja exposto e
ferível”. A frase retirada do livro Princesa de África ofereceu ao
designer italiano Luigi Baroli,
galardoado com um Compasso D’Oro em 1994, presente na coleção permanente
do MoMA de Nova Iorque, o pretexto do projeto: um corpo vulnerável entre as
“intervaladas costelas” em preciosa madeira africana.
Seduzido pela capacidade
evocativa do poeta e das palavras que os seus livros
transportam, a mão de Baroli esboça
a mão de Mia, como na gravura de Escher: “Uma mão desenhando a outra”. A cadeira
atravessa a respiração entre os dois. O escritor estende as linhas e o designer
afina o espaço. E, assim, caminha o tempo e ganha forma o objeto de proporções
inconstantes, realizado pela Zagas Móveis em delicadas ripas de mogno vermelho. A
evocar a África móvel, mutável, a Terra Sonâmbula a partir da qual o poeta e
romancista moçambicano nunca mais deixou a escrita.
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