É o título de um desconcertante poema de Alexandre O´Neill. Será lido no próximo recital das "Quintas" pelo Paulo Campos dos Reis, ponta-de-lança do colectivo "Caixa Geral de Despojos".
Um dos seus versos dá nome à sessão.
Inventário
Um dente d' oiro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante
A costureira muito desgraçada
Um máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno
Um revólver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria
Um conde que cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
O gafanhoto chamado surpresa
O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pé-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perdeu a fé
Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de facto perigosos
Um instantinho de beleza
Um octogenário divertido
Um menino coleccionando tampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas.
(Alexandre O'Neill)
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